Em O Cavaleiro da Dinamarca, a temática principal tem cariz religioso pois centra-se no dia de Natal com toda sua tradição (a ceia, o pinheiro, o presépio, as decorações da casa) descrita de forma poética, como tão bem sabia fazer Sophia de Mello Breyner Andresen. Neste dia, o Cavaleiro comunica à famíla que vai passar o Natal seguinte na Terra Santa, para rezar no sítio onde Jesus nasceu. A peregrinação vai transformar-se numa grande aventura vivida com muita coragem, fé e determinação pois ele tem de enfrentar imensos perigos.
Encaixadas na estória principal, outras estórias são contadas dando mais colorido, variedade e uma imensa riqueza cultural e artística à obra e mergulham o leitor noutros mundos:
- mundo ambiental: a floresta, com toda a sua fauna e flora, sofre grandes alterações à medida que as estações do ano vão passando.
- mundo histórico: História de Portugal (numa estória sobre os Descobrimentos) e História da Itália (em pleno Renascimento com todo o seu esplendor artístico, cultural e económico, fonte de um imenso espanto para o Cavaleiro).
- mundo social: as personagens pertencem a todas as classes sociais: O Cavaleiro pertence à monarquia, está rodeado de criados e servos que pertencem ao povo, é tratado, quando adoece, por frades (clero), e convive com a burguesia (banqueiros, mercadores e negociantes) quando passa grandes temporadas em várias cidades italianas.
- mundo artístico e cultural: o Cavaleiro fica deslumbrado com a arquitectura renascentista italiana e com as conversas sobre astronomia, filosofia, matemática, pintura e poesia. Ouve as estórias do pintor Giotto, discípulo de Cimabué, e do poeta Dante que descreveu a sua descida aos Infernos na obra A Divina Comédia.
São, portanto, muitos os espaços e os ambientes onde vai decorrer a acção:
- Casa do Cavaleiro, situada numa floresta na Dinamarca (Norte da Europa), símbolo dos valores tradicionais: fé, família, amizade, respeito; local donde parte em peregrinação;
- Palestina, símbolo de fé: Jerusalém, Belém, montes do Calvário e Judeia, Jardim das Oliveiras, rio Jordão, lago Tiberíade;
- Itália, símbolo do progresso e esplendor: Ravena, Veneza, Florença;
- Flandres e Antuérpia, símbolo da nova era, graças às navegações que permitiam ir ao encontro do desconhecido e da riqueza;
- Mar (viagem de barco) e terra (viagem a cavalo);
- Convento, símbolo de paz e de equilíbrio;
- Floresta, casa do Cavaleiro, local onde regressa, dois anos depois de ter partido.
Uma obra riquíssima do ponto de vista cultural e literário, com descrições embelezadas pelas personificações, metáforas e adjectivação que transmitem ao leitor sensações várias como se vivesse as próprias sensações da personagem principal; uma obra que se lê com avidez e que deveria ser de leitura obrigatória para toda a gente (miúdos e graúdos) e que só não o é porque "o verbo ler, tal como o verbo amar, não suportam o imperativo". A citação é de Daniel Pennac, in, Como um Romance.
2 comentários:
achamos o livro muito bonito e ilustrativo:
ass:ricardo,josé pinto da costa
Ainda bem que gostaram. É uma obra riquíssima, com grandes referências culturais, cheio de poesia como só Sophia sabia fazer.Bosa leituras
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